Não conheço uma mãe que tenha conseguido escapar dessa gente palpiteira. Deus nos livre!
No grupo de mães que eu participo no Brasil, percebo que os conselhos de estranhos, sobretudo os conselhos não solicitados raramente são bem-vindos. Sobretudo quando o conselho vem acompanhado daquele tom imperativo na voz.
O outro, quando aconselha, quase sempre fala de si, do que viveu. Entre a vida do conselheiro e do aconselhado existe uma infinidade de variáveis.
Cuidado com os conselhos que comprar,
Mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
– Filtro Solar (autor desconhecido)
Quando você vira mãe, a esfera da sua vida privada adquire outro formato. Quando penso que formato é esse, a primeira imagem que me vem à mente é um carrossel, onde você e a sua família ficam no centro, girando, girando…. enquanto a sua vida é encenada.
Do lado de fora estão os trausantes que passam pela cena optando ou não por dar palpites na criação dos seus filhos. Nasce uma criança, nasce automáticamente uma incrível necessidade em algumas pessoas de pregar “sabedorias” para a vida alheia.
Entre meus amigos brasileiros, acima de tudo, entre os melhores amigos, há uma espécie de respeito mútuo. Raramente damos conselhos não solicitados. Há uma espécie de entendimento, nunca proferido, de que a vida e a experiência do outro é sempre diferente da minha.
Se os conselhos são solicitados, a conduta dos meus amigos é cuidadosa, eles dão exemplo, num tom de voz convidativo à conversa. Trata-se de dar ao amigo solicitante, alternativas, outra visão sobre o assunto e não ditar um caminho à ser seguido. É um respeito ao saber do outro, um respeito à liberdade e responsabilidade do outro de escolher o seu próprio caminho.
“Tenho a impressão que é mais difícil ouvir palpites quando se mora na Eslovênia”.
Minha amiga tem razão, é sempre mais irritante ouvir palpites daqueles que não conhecemos. Na Eslovênia, as pessoas falam pouco de si, aqui é mais difícil estreitar laços de amizades e estabelecer intimidade, mesmo entre os familiares eslovenos.
É compreensível que eu e outras mães latinas que aqui vivemos, experienciamos um certo estranhamento, até mesmo um incômodo, quando as pessoas que não são da nossa intimidade, resolvem nos dizer como devemos conduzir a nossa vida ou criar os nossos filhos.
Tia palpiteira no Brasil
Ela tem mais de 60 anos, adora compartilhar, as experiências que funcionaram com os filhos dela. Diz que o problema dos seus filhos é disciplina. Ela é sua tia, você compartilhou com ela vários momentos familiares, passaram várias tardes juntas, trocaram intimidades. Vocês tem uma relação carinhosa com ela.
Tia palpiteira na Eslovênia
Ela tem mais de 60 anos, adora compartilhar, as experiências que funcionaram com os filhos dela. Diz que o problema dos seus filhos é disciplina. Ela é tia do seu marido, você não sabe nada sobre a vida dela, encontraram-se no máximo 10 vezes na vida, nunca tiveram uma conversa íntima.
Somos estrangeiras
Somos estrangeiras, a maioria de nós tivemos pouca oportunidade de contato com a família do marido antes do casamento. E as pessoas são diversas, para uns a cultura diferente é atrativa, para outros as diferenças culturais podem gerar desconfiança e até mesmo medo.
Eu me perguntava-me, se a desconfiança seria a mesma para uma mulher vinda de um país rico? Há 15 dias atrás uma amiga norueguesa bem sucedida reclamou que o sogro era intrometido e palpiteiro. Ninguém escapa.
Tudo mundo fala “quando você tiver filho, sua vida irá mudar”, isso é um clichê.
A vinda de um bebê não muda só a vida da mãe ou do casal, ele traz mudança para a família. Os pais vão aprender a ser pais e os avós de primeira viagem também deverão aprender a viver este nova função. Há muito amor, muita expectativa em jogo. E onde há amor, também há medo e cada pessoa lida com o medo de forma diferente. Uns são passivos, outros agressivos…
3/4 deste post foram escritos quando minha filha tinha 3 anos. Luna hoje tem 5 e agora eu raramente ouço palpites.
Para as mães de primeira viagem eu diria: Paciência, a criança cresce, os medos tornam-se mais brandos ou desaparecem, as papeis de cada um tornam-se mais claros e definidos. Nestas situações, o tempo costuma ser amigo.