_ Eu tenho uma curiosidade muito impessoal – diz Bartolomeu, após uma pausa.
_ O que você quer saber?
_ Você não veio para África apenas por causa da Deolinda.
_ Então, foi porquê?
_ Ninguém sai da sua terra só por causa de uma mulher. Você saiu por outro motivo.
_ E porquê?
_ Por exemplo, porque não era feliz.
Saímos para o estrangeiro quando a nossa terra já saiu de nós. Ele, Bartolomeu Sozinho, sabia disso, calejado que estava de remotos paradeiros.
_ Eu não saí de Portugal. Apenas vim buscar uma mulher.
É assim que responde, mas, de si para si, reconhece: na sua terra não era feliz. Mais grave ainda: ele não mais sabia o que era o desejo de ser feliz.
Em Lisboa estava entre família, no meio de tanta gente conhecida. Quando saiu para África receou que passaria sofrer de solidão. Todavia, agora sabia: havia muito que estava só. Solitário entre parentes e conhecidos. Ou como diz Bartolomeu, há muito que Sidónio Rosa deixara de ter quem o abençoasse.
– Mia Couto em Venenos de Deus, remédios do Diabo.