Os noruegueses se veem como pessoas igualitárias cuja cultura é baseada em princípios democráticos de respeito e interdependência. Eles têm gostos simples e não são inclinados a ostentação e a pompa excessiva. Mesmo que esse pensamento esteja presente em todo o mundo, é mais notável em países escandinavos e Holanda. Então, minha dúvida é, como são os eslovenos? Sim, a Eslovênia não é da mesma região e nem compartilha muito de história com esses países, mas gostaria de saber como é a mentalidade do povo esloveno. Gostam de ostentar roupas caras, carros, casas? De contar das suas realizações, seguindo a ideia “Se você tem, mostre”? Realizam atividades com o âmbito de exibir-se?
Esta pergunta foi feita por um visitante do blog.
Acho difícil escrever em nome de um povo ou de uma sociedade. Generalizações podem ser perigosas. Vou responder esta pergunta falando dos eslovenos do meu convívio.
Muitas vezes fui comprar roupas com meu marido, sempre notei que ele recusava comprar sapatos ou roupas que tivesse a logomarca da grife em destaque. Quando questionei porque deixava de comprar algo bonito e de qualidade só porque havia uma logomarca pequena visível, ele respondeu que que não era pago para fazer propaganda de grife e acrescentou que na Eslovênia era brega usar camisetas ostentando logomarcas. Tão diferente do Brasil, onde sempre vi jovens de classe média alta ostentando camisetas com nomes de grifes nas baladas.
No Brasil você encontrará muito mais casas luxuosas do que na Eslovênia. A maioria dos meus amigos e colegas eslovenos, possuem um apartamento simples, não decorados de acordo com a última moda, sem carro luxuoso na garagem. “Chic” para eles é fazer viagens para outros continentes, conhecer culturas diferentes, falar vários idiomas, aventurar-se em diferentes culinárias, frequentar concertos, teatros, cozinhar para amigos, saborear bons vinhos, comer mamão e abacate.
No Brasil, recordo que uma amiga reclamava que sua irmã não gostava de repetir roupas quando saía aos finais de semana, afinal elas moravam em uma cidade pequena e todos poderiam lembrar da roupa que ela usara anteriormente. Tal situação, lembra-me estas revistas americanas que transformam em notícia, o fato de uma celebridade ter repetido um vestido. Aqui na Eslovênia, no curso de pós-graduação, os alunos usavam o mesmo casaco de inverno durante todo o ano letivo. Repetiam as mesmas roupas e sapatos várias vezes na semana e em vez de comprar comida industrializada na cantina, eles traziam marmita! Sim, meus colegas psiquiatras traziam marmita na sala de aula! “Eu trago comida Juliana, é mais barato e saudável”.
O Brasil tem muita influência da cultura norte-americana e nestas sociedades do espetáculo, muito dinheiro é gasto com festas de casamentos, festa de debutantes, festa do primeiro aniversário… E a cada ano mais festas são inventadas. Na década passada o chá de bebê tinha a finalidade de comemorar a gravidez da mãe e ajudá-la dando-lhe roupas, fraldas e utilidades que ela viria precisar no cuidado com o recém-nascido. Hoje em dia o chá de bebê transformou-se em mais uma festa. Gasta-se com copinho decorado, docinho personalizado, papelzinho bonito no pratinho do bolo, florzinha aqui, ursinho lá, lembrancinhas… As mães gastam muito mais do que recebem. O mesmo se repete com o chá de cozinha.
“Na elogiadíssima história da americanização do Brasil antes mencionada, Gerald Haines diz que os Estados Unidos vêm usando Brasil desde 1945 como “área de teste para os modernos métodos científicos de desenvolvimento industrial baseado no capitalismo intensivo.”
– Noam Chomsky em Lucro ou pessoas.
Um amigo italiano que foi morar em Goiânia escreveu-me surpreso ao constatar que as festas no Brasil eram tão luxuosas. “Fui no aniversário de um bebê que iria comemorar o primeiro aniversário e a decoração da festa parecia ter vinda dos cenários de Hollywood”.
Aqui não há festas de debutantes e o primeiro ano de vida é comemorado apenas entre amigos e familiares mais próximos, festa simples, almoço ou lanche da tarde seguido de bolo. Não há gastos com lembrancinhas, decoração, aluguel de espaço e animadores de festas.
Os casamentos na Eslovênia também são muito mais simples. A festas costumam ser realizadas em restaurantes, não em salões alugados. No local não é acrescentado decoração extra, pode haver um vasinho de flor na mesa, apenas isso. Nada que lembre os luxuosos arranjos de flores feitos em enormes vasos e os numerosos objetos ornamentais que são vistos nos casamentos brasileiros. É flor da mesa do bolo, flor na mesa dos doces, flor na mesa do café…
No meu casamento, na Eslovênia, não gastei nenhum centavo com decoração. A cerimônia foi feita em um castelo, haviam algumas flores na mesa e o preço destas já estava incluído na taxa cobrada para se casar no local. No restaurante, havia o usual vasinho com flores nas mesas dos convidados e isso foi tudo. Quem chegasse no local e não visse os noivos, não imaginaria que o evento era um casamento. Eu adorei, nunca entendi porque jovens casais que ainda pagam aluguel se dispõem a gastar tanto dinheiro com festas de casamentos. Preferia ir 5x para Tailândia do que gastar tal dinheiro com flores que iriam morrer no dia seguinte.
Aparência, aparência… Quando é que nós brasileiros fomos convencidos de que uma boa festa, com boas lembranças, só será tão boa assim se tiver mesas repletas de vasos de flores e arranjos ornamentais e móveis provençais? Quando é que fomos convencidos de que precisamos ter um bolo de papelão encapado na mesa para ficar bonito na foto e outro para comer? Quando decidimos trocar aquele delicioso bolo de massa fofa de chocolate, recheado e coberto com brigadeiro, por aquele com massa dura, mas que é mais bonito por fora por ser decorado com quilos e quilos de açúcar e colorante em formas de desenhos, florzinhas e bonecos?
Ah, mas há algo que o eslovenos gostam de exibir. Eles tem orgulho de seus jardins, suas hortas, da grama bem cuidada, das flores nas janelas, das tulipas coloridas abertas no jardim no mês de maio. Na primavera, as lojas de jardinagem ficam lotadas e nos dias ensolarados é comum vê-los dispensarem inúmeras horas no cuidado do jardim. Hábito criado no antiga Iugoslávia, os eslovenos entravam cedo no trabalho, voltavam cedo para casa. Tinham tempo para cuidar da horta e sempre cuidaram desta com amor, pois dela colhiam legumes e verduras frescas durante 5 meses por ano. Os eslovenos nunca entendem como é que em um país tropical como o Brasil, preferimos cimentar todo o terreno ao redor da casa, no lugar de fazer horta.
Não acredito que sejam apenas o escandinavos ou os eslovenos que não demonstram tanto interesse em ostentar suas posses, mas a grande maioria dos europeus agem da mesma maneira, vide os filmes franceses, alemães, espanhóis… Há grandes similaridades entre a cultura brasileira e a americana e muitas diferenças entre estas e a cultura europeia. O espetáculo tem sido menor nas “bandas” de cá, deixando a ideia de morar na Eslovênia ainda mais atraente.
Leia mais…
. Como a classe média alta brasileira é escrava do alto padrão de supérfluos
Juliana, eu sou como o seu marido: NUNCA paguei um item para fazer propaganda da marca. Isso é um absurdo, mas os brasileiros não conseguem entender, e muito pior, é que se matam, às vezes, literalmente, para terem um item de uma marca famosa.
nossa…isso existe…que doce que foi ler, e ter esperança
Simplesmente amei!
Juliana, excelente observação. Eu tenho a mesma experiência com o meu marido Miha. Ele me ensinou a ser desapegada de determinadas coisas que para mim antes eram muito importantes mas irrelevantes para minha vida e crescimento pessoal. O valor esta nas simples coisas que temos e que nos fazem felizes, seja estar na Eslovenia com a nossa Familia ou caminhar na floresta ou redor de Kranj ou até mesmo simplesmente apreciar o trabalho no Jardim e na horta. Quando fui ao Brasil agora em Janeiro, eu senti a diferença, e que me irritou muito, com relação a aparências. Nós dissemos não aos caros restaurantes e as baladas, procuramos aquilo que nos fez mais feliz, água de coco, praia e muito tempo na natureza. Foi a primeira vez dele no Brasil e para ele foi uma experiência muito especial, ver a natureza ao invés das aparências…
Ola Juliana que documentos precisa pra casar na eslovenia eu vou mi casar estou sem saber onde procura órgãos no brasil
Date: Thu, 4 Feb 2016 12:35:26 +0000 To: nicecosta_sp@hotmail.com
Leia os posts abaixo:
https://esloveniabrasil.com/2010/01/15/legalizacao-de-documentos-para-morar-na-eslovenia/
https://esloveniabrasil.com/2011/02/28/casamento-na-eslovenia-2/
Juliana, estive ano passado com a minha noiva ai na Eslovênia e adoramos! Utilizei algumas dicas do seu blog para viagem. Foram 2 dias em Ljubljana, 2 em Bled (em um fomos para Bohinj/Vintgar Gorge) e mais 2 em Koper (que ficamos na casa de um casal esloveno através Airbnb) e utilizamos como base para visitar Skocjan e Piran. Que país incrível, queremos voltar um dia, quem sabe até morar (sonho muito distante). 6 dias foram muito pouco.
Sou programador/analista de sistemas, sabe me dizer se é difícil arranjar trabalho por ai? Falando apenas inglês é possível ou teríamos que aprender o idioma da Eslovênia ?
Olá Marcos
Que bom que gostou do país.
Quem trabalha na área de TI tem mais facilidade de arranjar emprego em qualquer lugar do mundo, afinal o inglês é a língua recorrente, não acredito que o esloveno seja necessário para profissionais da área. Sobre a demanda de empregos, não conseguiria te informar, não conheço ninguém que trabalhe na área. A taxa de desemprego no país é de 13%.
Adorei seus comentários, realmente fui criada por mâe e vó eslovenas e é isso mesmo , a educação é outra , sem ostentação e graças a Deus consegui passar isso aos meus filhos , me sinto em casa na Eslôvenia.. saudades…