Parto e história de amigas que tiveram filhos na Eslovênia

Na Eslovênia a mulher não pode escolher que tipo de parto terá. A cesárea só é feita com o objetivo de preservar a saúde e segurança da mãe e do bebê.  No Brasil, na rede pública de saúde,  52% dos partos são feitos através da cesárea, na rede privada este número sobe para 80%!  Na cidade do Rio Janeiro o índice de cesáreas na rede privada bateu recorde mundial: 93%! Na Eslovênia apenas 15% dos partos acontecem através da cesárea, porcentagem recomendada pela Organização Mundial de Saúde.

Gestante

Os eslovenos procuram sempre ter um estilo de vida mais saudável. Aqui não há tantos produtos light e diet, eles consomem muito mais alimentos orgânicos, os preços desses alimentos são mais acessíveis. Eles praticam bastante esportes ao ar livre, na primavera e no verão você poderá encontrar diversos eslovenos que trocam o carro pela bicicleta para ir ao trabalho. Este estilo de vida também reflete-se  no uso de medicamentos. Antibióticos não são muito bem-vindos por aqui. Tive uma gripe forte, fiquei 7 dias na cama, sem poder comer de dor de garganta e quando fui ao médico ele receitou-me apenas vitamina C, bastante líquido e repouso. No Brasil e em situações similares, os médicos já teriam que receitado Benzetacil. Também não é raro você encontrar na Eslovênia, mulheres que optam por um parto normal sem anestesias. Mitja tem apenas duas primas e as duas optaram por este tipo de parto. Se a gestante, no parto normal desejar receber a anestesia epidural, ela deve pagar, o seguro de saúde não cobre tal procedimento.

A Eslovênia é um país pequeno, apenas 2 milhões habitantes, Koper, a sexta maior cidade do país só tem 40 mil moradores. Por isso, nem todos os hospitais eslovenos são grandes, possuem estrutura para realizar cirurgias ou tem anestesistas de plantão. A gestante tem o direito de escolher o hospital que quiser para fazer o parto, mas se ela optar por fazê-lo em um hospital pequeno, deverá agendar com antecedência o anestesista.  As duas primas do Mitja tem histórias parecidas, ambas optaram por ter seus bebês em hospitais pequenos e decidiram por um parto normal natural, ou seja, sem o uso de anestesia. Entretanto, na hora do parto, a dor era tanta que elas mudaram de ideia e quiseram tomar a epidural. Como não haviam agendado antes o médico anestesista, não puderam ter a dor aliviada.

Postojna, cidade onde está localizada a mais famosa caverna eslovena, é também popular entre os eslovenos por ter um hospital com ótima estrutura para a realização de partos e há sempre anestesistas em plantão. As mães podem após o parto se quiser, pagar 70 euros pela diária de um quarto privado, o marido e filho recém-nascido podem estar ao lado dela todo o tempo que ela estiver internada. No hospital em Liubliana, se eu não me engano, com exceção do pai, as visitas às mães são proibidas.

Geralmente ouço histórias de amigas no Brasil que após fazerem a cesárea ficaram internadas 2 ou 3 dias. Aqui na Eslovênia, o usual é que a mãe que fez parto normal é  internada durante 3 dias. A internação recomendada para quem faz cesárea é de 5 dias.

Cada parto é diferente, tanto no Brasil como na Eslovênia, tanto na rede pública, como na rede particular você ouvirá boas ou más histórias.  Minha sogra acha o parto normal ótimo, em seu primeiro filho ficou em trabalho de parto apenas 2 horas, o segundo filho foi ainda melhor, apenas 40 minutos! E ela teve o parto no centro de saúde do vilarejo. Como minha sogra, a maioria das pessoas que eu conheço e que  fizeram o parto na Eslovênia têm histórias bonitas para contar, apenas três amigas disseram que não tiveram uma boa experiência.  Em todos os três casos, o parto foi feito em Postojna, a anestesia epidural teve curta duração e não teve o efeito desejado. Elas passaram por um longo trabalho de parto, mais de 13 horas,  e reclamaram que não foram assistidas em sua dor.

Se no Brasil, o tamanho do bebê pode ser uma das razões para se indicar cesárea, o mesmo não acontece na Eslovênia. Uma amiga colombiana teve o filho com 4,5 kg e 57 cm através do parto normal. Uma amiga brasileira também teve um bebê com mais de 5 kg através do parto normal. Ambas disseram que os médicos não verificaram o tamanho do bebê antes do parto e relatam que como tinham dificuldade na expulsão dos bebês, a equipe médica utilizou a “Manobra de Cristeler” onde enfermeiros empurram a barriga das mamães de cima para baixo, para forçar a saída do bebê. Apesar de fazerem elogios a equipe médica que foi atenciosa, ambas relataram que passaram muita dor neste procedimento.

Se a gestante sofre de tocofobia –  medo irracional do parto normal –  ela poderá conversar com a ginecologista e está poderá encaminhá-la para terapia. Há um centro de apoio que oferece terapia à essas mulheres. A grávida também poderá  ser encaminhada para um psiquiatra que fará um diagnóstico dela e a acompanhará durante a gestação. Se no oitavo mês, os sintomas da tocofobia não diminuírem e a gestante estiver em sofrimento psíquico, o psiquiatra escreverá uma orientação para ginecologista pedindo que encaminhe a grávida para o parto através da cesárea.

Diferenças culturais: Ao contrário do Brasil onde já ouvi muitas mulheres falar “coitada ela vai fazer parto normal“, aqui na Eslovênia fala-se o contrário “coitada ela precisou fazer cesárea”. Se de um lado muitas amigas brasileiras indignam-se porque na Eslovênia não há possibilidade de escolher o tipo de parto.  As eslovenas por sua, vez indignam-se com nossos índices de cesárea na rede privada,  dizem que não entendem como as brasileiras preferem passar pela recuperação de uma cirurgia como a cesárea, além disso ficar com uma cicatriz feia no corpo.

Durante todo o período que está no hospital a gestante é acompanhada pela babica (doula). Após o nascimento do bebê, a mesma doula que acompanhou o parto da mãe irá orientá-la sobre a amamentação, visitará o recém nascido na casa dos pais, medirá seu peso, o peso da mãe, limpará o umbigo do bebê, dará o primeiro banho no bebê após o umbigo cair, verá como anda a amamentação, tirará dúvidas da mãe. Minha amiga colombiana, disse que recebeu a doula durante 5 vezes em sua casa. Uma outra amiga brasileira, disse que aos 6 meses a doula retornou à sua casa para ensiná-la a preparar o papinha para o bebê. As doulas na Eslovênia, ao menos a nova geração, possuem formação universitária, a Universidade de Liubliana oferece o curso.

Famílias que apresentam uma renda inferior a 631,00 euros por membro da família poderão receber do  governo esloveno  uma cesta com produtos para o recém-nascidos no valor de 279,00 euros. Após o nascimento da criança, os pais tem até 60 dias para para solicitar a cesta no Center za Socialno Delo (Centro de Trabalho Social).

Uma outra diferença e que já escrevi no blog é a licença-maternidade. Na Eslovênia a mãe que trabalha tem o direito à um ano de licença. Leia mais sobre a licença no post Licença de maternidade na Eslovênia é de 1 ano

Doula, incentivo ao parto normal, cesta de produtos ao recém-nascido, incentivo à amamentação com a licença-maternidade com duração de 1 ano, possibilidade do pai usar a licença-maternidade em vez da mãe….  Há muitos benefícios em se ter filhos na Eslovênia.

Leia também:
Meus amigos grávidos no Brasil, meus amigos grávidos eslovenos

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