Francisco em: Não dê uma de besta como eu

Francisco: Eu tenho pequena renda que me permite viver sem trabalhar. Como eu tenho filhos pequenos e cidadania europeia, decidi escolher um pais onde eu pudesse ver meus filhos crescerem conhecendo valores como honestidade, etc,  desses que a gente não vê mais no Brasil.

Juliana: São Paulo ficou em segundo lugar em um ranking global de honestidade realizado pela “Reader’s Digest”. Para a pesquisa foram deixadas 12 carteiras em diversos pontos de 16 cidades pelo mundo, com uma quantia equivalente a R$ 100, cartão com telefone para contato e fotos de família. Na capital paulista foram devolvidas nove carteiras, o que coloca o Brasil à frente de Alemanha, Inglaterra e Suíça, e atrás apenas de Helsinque (Finlândia).
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Francisco: Dessa forma, viemos para a Eslovênia (a Juliana me permitiu publicar minha experiência há alguns posts atrás) onde vimos um país para o qual não tenho palavras para descrevê-lo de bom que é. Porém, para minha família, o pais é ótimo para PASSEAR. Não quero criar contraponto, mas sim, quero falar de um lado que as pessoas falam pouco da Eslovênia: as pessoas aqui não dão gargalhadas. Elas são comedidas demais (não estou falando de se falar baixo e sim de exageros): Meus filhos (de 2 e 5 anos) já foram advertidos por rirem alto ou gritarem (caramba, meu filho tem 2 anos e ele GRITA, principalmente quando esta alegre e ele foi advertido, não uma vez apenas, mas várias, em lojas vazias que a ninguém incomodava). Nós fomos a um teatro INFANTIL e haviam pessoas que controlavam a entonação de voz e reação das crianças. Isso mesmo, não estou brincando, ninguém me contou, eu estava lá.

Juliana:  Eça de Queirós, em seu livro “Os Maias” já falava há mais de 100 anos atrás que o homem requintado europeu já não ri.
O que ainda tornava a vida tolerável era de vez em quando uma boa risada. Ora na Europa o homem requintado já não ri, – sorri regeladamente, lividamente. Só nós aqui, neste canto do mundo bárbaro, conservamos ainda esse dom supremo, essa coisa bendita e consoladora – a barrigada do riso!

Os espanhóis (vide as novelas, os filmes de Almodóvar), os gregos, os italianos, os turcos – se for falar dos países que visitei – sempre foram conhecidos por seu temperamento mais expansivo. Muito diferente no entanto, é a fama dos  austríacos, noruegueses, dos alemães, dos suecos… Um amigo esloveno deixou um ótimo salário na Alemanha porque dizia que os alemães são introvertidos demais.  Um outro amigo esloveno deixou um um emprego na União Europeia, na linda cidade de Viena pelo mesmo motivo. Não há como comparar o temperamento dos latinos europeus, dos latinos americanos com os outros povos da Europa. A fama que os europeus são mais introvertidos é tão antiga, admira-me que tenha tido expectativa de encontrar aqui no povo eslavo a  extroversão latina.

Não frequentei teatros infantis e por isso não posso acrescentar qualquer informação à sua experiência, mas posso contar que na apresentação do cantor baiano Carlinhos Brown que aconteceu em Liubliana, todas as pessoas presentes permaneceram em silêncio e sentadas.  Lembro também que uma vez, junto com um grupo de brasileiras, fui  à uma apresentação de MPB feita por um cantor baiano. A apresentação foi feita em um hotel 4 estrelas e nós brasileiras fizemos comentários baixinho, ao pé do ouvido durante o show e fomos repreendidas. Mesmo que seja a apresentação de uma banda de axé, a etiqueta pede silêncio e que os ouvintes permaneçam sentados. É também verdade que há espaços mais informais. Já fui em festas organizadas pelos cubanos, pelas associações de capoeiras e todos dançavam até suar. Tudo depende do local, dos organizadores e do público esperado.

Francisco: A comida deixa muito a desejar, você não vai se sentir bem em um supermercado esloveno.

Juliana: Eu não entendi o que você quis dizer com “você não vai se sentir bem em um supermercado esloveno”. Sobre a comida eslovena, já escrevi um post dizendo que aqui as pessoas tem uma vida mais saudável e utilizam muitos menos sal do que no Brasil. No começo eu também falava que não gostava da comida eslovena, mas depois descobri que não gostava era do do restaurante que frequentava. Depois de 4 anos no país, frequentei ótimos restaurantes, com comidas bem temperadas e saborosas. A carne de boi eslovena está longe de ter o mesmo sabor da carne brasileira. Os latinos que moram aqui, aprendem a dicas de como amaciar a carne, de como pedir a carne, sim porque o corte de boi na Eslovênia é diferente do corte de boi no Brasil, deixamos mais tempo a carne no tempero e quando a saudade da picanha aperta vamos para o restaurante O Argentino. Localizado em Liubliana, lá você poderá encontrar picanha na brasa.

Também discordo que a comida sem graça seja algo típico da Eslovênia, passe um dia no aeroporto de Londres. Quantos brasileiros que viajaram para a Europa disseram para mim que não aguentavam mais comer carne de porco e batata. Quantos são os brasileiros que reclamam da comida dos Estados Unidos.  Eu não tenho problemas com a alimentação na Eslovênia.  Aqui há lojas que vendem produtos como mandioca, leite de coco, palmito, faço minha própria comida,  adapto receitas aos ingredientes disponíveis, ganho farinha de mandioca de amigas que vão para o Brasil e o melhor e aprendi a escolher melhor os restaurantes.

Francisco: E por favor, não venha para cá, como eu que fui muito inocente, pois saí do Brasil de coração aberto querendo confiar novamente nas pessoas e cheguei aqui e falei demais da minha vida. Respondi quanto eu ganho ao senhorio que me aluga a casa e me arrependi muito disso, pois aqui também existem muitas pessoas interesseiras e, se você deixa, te passam a perna mesmo (coisa que já me aconteceu varias vezes por não falar bem a língua).

Juliana: Diga-me um país que você não encontrará pessoas interesseiras e mal intencionadas e eu lhe direi que o paraíso existe.

Francisco: Este pais é um 1.324.377.567 vezes melhor que o Brasil. Eu somente acho que alguém deve falar de experiências ruins também e não só ficar falando coisas boas.

Juliana: Nos links “Minha vida na Eslovênia”, “Diferenças culturais” eu faço relatos das dificuldades que passei no país. Mas somos pessoas diferentes, com experiências e conhecimento e expectativas diferentes. Na semana passada perguntei a um amigo brasileiro que mora aqui há 4 anos se ele não tem vontade de voltar ao Brasil e ele disse, não sinto falta nenhuma do Brasil, sou feliz aqui. Outro garoto, de 15 anos, chegou do Ceará em pleno inverno, 10 graus negativos e disse a mãe que não quer mais voltar a morar no Brasil ele adorou a Eslovênia. Só que conversando com estas pessoas, as expectativas dela em relação aos europeus, a Europa, a Eslovênia são diferentes da sua.

Francisco: Mas se você vem pra cá,  verá que é maravilhoso para quem passeia,  mas se vem viver aqui, eu acho que é bom pra quem casa com esloveno e é forçoso e rapidamente incluído em seu convívio social e familiar. Os espaços públicos são bem divididos e os imóveis raramente são cercados (o que é maravilhoso), mas cuidado, a noção de propriedade é clara (tenho um vizinho que, como um cachorro que marca seu território com urina, ele marca seu terreno cortando sua grama de 15 em 15 dias).

Juliana
: Os pais do Mitja também cortam a grama a cada 15 dias e nós nem temos vizinhos ao lado deste terreno. Os eslovenos adoram aparar a grama e ter o jardim bem cuidado. Isso não é necessariamente um sinal de domínio territorial (sic).

Francisco: As cidades são –  com exceção das maiores cidades – despovoadas, se você não curte ser o único a entrar em uma loja ou quase não encontrar gente na rua, você é do meu grupo. Pra mim não deu, eu fiquei 6 meses e não aguentei. Achei o país lindo, maravilhoso e chato pra caramba.

Tédio
Juliana: E o engraçado de tudo isso Francisco é que a densidade populacional na Espanha é inferior a da Eslovênia. Leia mais
Sobre o país ser chato, eu lembro de um casal de amigos um paulistano e uma baiana que adoram morar na Eslovênia, achavam mesmo um tédio morar em Brasília. Eu que morei em Campinas, gostava da cidade, mas “chato pra caramba” para mim era não poder andar as noites na ruas, era pegar ônibus sempre lotados, era ser assaltada na rua, era ser assediada constantemente quando voltava de noite para casa. Era também chato pra caramba não poder ter contato com a natureza, não ter rios de água limpas nas quais eu pudesse nadar… enfim, temos expectativas diferentes . E por isso mesmo acho importante publicar no blog pontos de vistas diferentes sobre o país.

Francisco: Agora estou na Espanha e, apesar da crise, nos meus primeiros dois dias aqui, já tive mais experiência humana que nos meus seis meses na Eslovênia. A comida daqui (isso é gosto pessoal, hein) da de dez a um na comida eslovena. As pessoas dão gargalhadas e conversam com você (pelo menos em Granada) como se te conhecesse há anos. Eu ando a noite na Espanha e encontro pessoas nas ruas.

Juliana: Ah Francisco, eu também adorei conhecer a Espanha, fiquei apaixonada por Gaudí, pela comida, pelo clima mais ameno, pelos espanhóis, claro pelo idioma, pela música. A cultura é mais parecida com a brasileira, o povo é mais extrovertido, mais aberto, você é logo introduzido ao convívio social já que não tem a dificuldade com o idioma. Não há como fazer comparações. É como comparar os austríacos com os cubanos. Na Tailândia conheci um brasileiro que visitou diversos países ao redor do mundo, quando perguntei a ele qual foi a viagem que ele mais gostou e ele disse que não saberia responder, porque cada país tem algo de especial. Eu gosto da Eslovênia por causa da  natureza  preservada, da segurança e por muitos direitos sociais ainda assegurados ao povo. Escolheria um país que tivesse a música e as praias de Cuba, a comida da Tailândia, a simpatia dos gregos, a hospitalidade dos turcos, a vida noturna de Barcelona, a educação da Finlândia, o sistema de impostos da Suécia, os políticos honestos da Nova Zelândia…. Cada país tem suas delícias e suas dificuldades.

Francisco: Você pode achar que isso tem pouca importância, mas depois de seis meses se trancando cedo em casa, você vai que ver que é…muito CHATO. Bem, desculpa,  mas eu tinha que escrever um pouco da minha experiência na Eslovênia e desculpa ainda mais a indelicadeza de comparar países,  mas repito que este foi um gosto pessoal. A Eslovênia é encantadora e há muitas pessoas maravilhosas no país, mas não dá uma de besta igual eu que minimizou as diferenças culturais e achou que sobreviveria bem em um país, para mim, chato pra caramba e perfeito para passear…com estadia valida para três meses.

Mais uma coisa…os jovens não dançam…pelo menos eu não vi clubes de dança no pais. os jovens encenam coreografias ensaiadas e não dançam ou cantam sem treinamento anterior. Eu não sou mais jovem mas quero que meus filhos curtam um dia uma boa musica e …Mexam o quadril caramba…que é maravilhoso quando se tem 18 anos. O comedimento do jovem esloveno me assusta um pouco,  pois ainda não sei se é disciplina ou frustração contida…simplesmente, não sei, mas me é estranho pois os acho muito calados.  Agora acabou…tchau.

Juliana: Se você morasse em Rafard, cidade do interior de São Paulo onde eu nasci, também iria achar que os brasileiros não dançam porque lá não tem discotecas. Em Liubliana há inúmeras boates, os eslovenos adoram fazer curso de danças, há aulas de salsa, mambo, merengue, dança do ventre. Já vi eslovenos dançando em festas, em casamentos, em aniversários, até dançando polka em estações de esqui. É uma pena que você não tenha conhecido os bons restaurantes do país e não tenha tido oportunidade de dançar uma boa polka eslovena.  Acrescento ainda, nós brasileiros é que somos conhecido pela dança, pelo samba, pelo Carnaval.  Não pude segurar a risada quando li que  você tinha expectativas que os europeus dançassem requebrando os quadris.

Faça um teste, pergunte à um europeu qual é o povo que é conhecido mundialmente por remexer os quadris quando dança, por ser comunicativo e extrovertido? Se eu fizesse esta pergunta ao meu marido, ele certamente responderia: o brasileiro (sic).

Fico feliz que agora você tenha encontrado um país que atenda melhor às suas expectativas.

Igor Corva via Facebook: Não tem boates na Eslovênia?! Na minha adolescência frequentei muitas boates eslovenas: Tivoli (Portorož), Arcadia (Bernardin, Portorož), Nautilus (Sežana), as muitas de Ljubljana…

Amiga baiana citada no post, via Facebook: Acabei de ler o post no seu blog, tô desacreditando. Como alguém vem para a Eslovênia pensando em encontrar a Bahia, me diz? Por que ele queria alegria, gargalhada, gente gritando, muvuca e gente requebrando, né? Só na Bahia, nego! Ou na Eslovênia, no show de Denise, ahahaha!

3 Respostas para “Francisco em: Não dê uma de besta como eu

  1. Impressionante como se pode ter idias bem estranhas de um pas. Eu tenho parentes na Eslovnia, visito o pas sempre. Adoro a comida eslovena – em Koper conheci restaurantes maravilhosos. Minha famlia cozinha muito bem.

    Quanto a cultura, no d para comparar com brasileiros. Meus primos jovens falam pelo menos 4 linguas, no tem a futilidade dos jovens brasileiros.

    Eu adoro a eslovenia. Problemas?? certamente que sim. E o Brasil??? Mil problemas graves – educao, sade, segurana…..

    Angela

    Em 14/10/13, “Uma brasileira na

  2. As pessoas querem mudar de país e mas na verdade nem sabem o que querem.

    1-) Falar que a comida é ruim? Me desculpe, mas isso é uma ignorância sem tamanho. Primeiro que vai de gosto pessoal e segundo que você foi em quantos restaurantes para chegar a esta conclusão?

    2-) Sobre crianças falarem baixo, acho que postura e conduta é uma coisa que se aprende em casa. Você não desliga o celular quando vai ao cinema? Pois então deve manter silêncio no teatro. Mesmo que seja infantil.

    3-) O dono do imóvel era interesseiro? Me desculpe amigo, mas para quantas pessoas você sai falando o quanto ganha aqui no Brasil? “Olá, meu nome é Paulo e ganho 10mil”. Essa foi a forma que você encontrou para tentar ser aceito no país? Melhor tratado talvez? Brasileiros e suas manias classistas. Lamentável.

    4-) Lojas vazias? Uma ótima oportunidade para você conversar com o lojista e tentar se socializar, não é mesmo? Não. Você quer ficar 2 horas na loja e não comprar nada. Mas com a loja vazia, ficou intimidado né? Brasileiro reclama por ficar 40 minutos na fila da C&A e acha ruim quando vai à Europa e encontra loja vazia. Não entendo.

    5-) Vizinhos cortam a grama para delimitar seu território. Cara, que vergonha você falar isso. Se o vizinho estava cortando a grama, era melhor você ter ido oferecer ajuda do que ficar falando mal. Aqui no Brasil meus vizinhos tem cerca elétrica. Devo interpretar que é para eu não pular na casa dele?

    6-) Se o país é perfeito para passear, por que você ficou 6 meses trancado em casa? Tem algo errado nessa colocação.

    Amigo, me desculpe, mas acho que você deveria repensar sua vida. São pessoas como você que fazem o Brasil ser terceiro mundo. Não é o Brasil que é ruim, é o povo brasileiro que é deprimente. Classista, adora aparecer. Quando não aparece reclama e fala que o lugar é ruim.
    Sinceramente, a Eslovênia não precisa de você. Aposto que daqui 6 meses voltará ao Brasil falando mal da Espanha também…

    Parabéns ao site por mostrar experiências de outras pessoas (mesmo desprezíveis como esta).

    • “Aqui no Brasil meus vizinhos tem cerca elétrica. Devo interpretar que é para eu não pular na casa dele?” Chorei de rir! Apontamento perfeito.

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