Faz dois dias que o Hino da Independência do Brasil não me sai da cabeça.
Brava gente brasileira!
Longe vá… temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.
A frase “Longe vá … temor servil” é mais murmurada do que cantada. Isto rendeu-me em casa o apelido de baleia.
A criança fica no pátio cantando o hino para a comemoração do 7 de setembro, sem imaginar que 20 anos depois cantará este hino enquanto cozinha bobó de camarão na frente de uma sogra eslovena.
Sogra: “Nunca te vi cantar, o que você está cantando Juliana?”
Marido: “Ela não canta, ela múrmura como um baleia… (risos) Oh… minha baleia”.
Meu sogro também ouviu meus murmúrios ritmizados e ri quando passa por mim. Esses impulsos cantantes e totalmente involuntários estão me fazendo passar vergonha. Deve ser saudades, deve ser saudades.
E por falar em saudades, ontem passei uma tarde maravilhosa em companhia dos brasileiros. Comemos feijão tropeiro, costela no fogo de chão, mouse de maracujá, cocada, tomei caipirinha…
Na reunião estava presente desde a brasileira veterana que está aqui há mais de 12 anos, a que acabou de chegar. Esses encontros são sempre regados a muitas risadas e troca de experiências. Ter amizade com brasileiros que gostam de agregar, de organizar reuniões, faz com que a vida na Eslovênia seja muito mais fácil e gostosa. Entre as lembranças mais divertidas que eu tenho no país com certeza estão estas, ao lado desta gente alegre e divertida brasileira.
Quem definiu os brasileiros como gente alegre e divertida foi uma eslovena, esposa de um brasileiro. Achei interessante o que ela disse em seguida:
Estava no Brasil, em uma cidade grande, sem verde, cheia de trânsito e prédios, barulhenta e perguntei ao meu marido: “Como é que vocês brasileiros não se sentem´zaprti´(tradução correta seria algo entre, sozinhos, solitários, angustiados) numa cidade desta?”. Meu marido respondeu “na Eslovênia é tudo verde, com muito campo, muita natureza”, mas também lá eu me sinto zaprt”. Falta-lhe esta intimidade, este riso solto, esta troca de experiências que vocês brasileiros têm.
Além dos encontros, as brasileiras que moram aqui usam um fórum para trocar ideias sobre culinária, médicos, loja onde podem encontrar produtos similares aos brasileiros. Combinam festas, pequenos encontros e até correr juntas. Você que está chegando para morar no país, deveria entrar em contato com a comunidade, eu sempre brinco: Somos diferentes, mas gostamos de feijão ;)
Deixei o hino da independência tocando enquanto escrevia este post – não ria e não me pergunte o porquê – meu marido que está ao meu lado, escrevendo para o doutorado começou a cantar. A música acabou e ele pede bis! Eu hein, isso pega… ;)