Diferenças entre a França, o Brasil e a Eslovênia I

O francês Oliver expôs de maneira humorada diferenças culturais entre o Brasil e a França. “Aqui são umas das minhas observações, às vezes um pouco exageradas, sobre o Brasil. Nada sério”. Escrevi sobre as diferenças entre o Brasil e a Eslovênia.

Oliver: Aqui no Brasil, tudo se organiza em fila: fila para pagar, fila para pedir, fila para entrar, fila para sair e fila para esperar a próxima fila. E duas pessoas já bastam para constituir uma fila.
Na Eslovênia eu já fico feliz porque nunca enfrentei filas para ser atendida no banco.

Oliver: Aqui no Brasil, o ano começa “depois do Carnaval”.
Na Eslovênia todos dizem que nos meses de verão – junho, julho,  agosto – o país para, o que é certamente um exagero – mas concordo que ao menos no setor público o atendimento é mais demorado, a maioria dos eslovenos tiram férias nesta época do ano.

Oliver: Aqui no Brasil, não se pode tocar a comida com as mãos. No McDonald’s, hambúrguer se come dentro de um guardanapo. Toda mesa de bar, restaurante ou lanchonete tem um distribuidor de guardanapos e de palitos. Mas esses guardanapos são quase de plástico, nada de suave ou agradável. O objetivo não é de limpar suas mãos ou sua boca, mas é de pegar a comida com as mãos sem deixar papel nem na comida nem nas mãos.
Eu raramente como fast-food, mas pelo menos na metade das vezes que entrei em uma destas pequenas lanchonetes,  vi o atendente com a mesma mão sem luvas que pegou o troco do cliente, fazer meu lanche.

Oliver: Aqui no Brasil tudo é gay (ou ‘viado’). Beber chá: e gay. Pedir um coca zero: é gay. Jogar vólei: é gay. Beber vinho: é gay. Não gostar de futebol: é gay. Ser francês: é gay, ser gaúcho: gay, ser mineiro: gay. Prestar atenção em como se vestir: é gay. Não falar que algo e gay : também é gay.
Isto não ocorre na Eslovênia.

Oliver: Aqui no Brasil, os homens não sabem fazer nada das tarefas do dia a dia: não sabem faxinar, nem usar uma maquina de lavar. Não sabem cozinhar, nem a nível de sobrevivência: fazer arroz ou massa. Não podem consertar um botão de camisa. Também não sabem coisas que estão consideradas fora como extremamente masculinas como trocar uma roda de carro. Fui realmente criado em outro mundo…
É, eu tive sorte, meu marido cozinha, faz pão, pizza, doce, limpa a casa, cuida das flores, faz horta, lava, passa, prega botão se precisar.
Ele diz que desde cedo a mãe o incentivou a realizar tarefas domésticas.

Oliver: Aqui no Brasil, sinais exteriores de riqueza são muito comuns: carros importados, restaurantes caríssimos em bairros chiques, clubes seletivos cujos cotas atingem valores estratosféricas.
Eu nunca vi na Eslovênia casas tão luxuosas como as que há no Brasil, conheço pessoas que tem muito dinheiro, mas preferem usar este para viajar e não para comprar o carro do ano ou redecorar a casa conforme a última moda.

Oliver: Aqui no Brasil, os casais sentam um do lado do outro nos bares e restaurantes como se eles estivessem dentro de um carro.
Meu marido sempre senta na minha frente.

Oliver: Aqui no Brasil, os homens se vestem mal em geral ou seja não ligam. Sapatos para correr se usam no dia a dia, sair de short, chinelos e camisetas qualquer e comum. Comum também é sair de roupas de esportes mas sem a intenção de praticar esporte. Se vestir bem também é meio gay.
Os eslovenos em geral se vestem bem, mas se vestir bem não é sinônimo de vestir roupas de grife.

Oliver: Aqui no Brasil, o cliente não pede cerveja para o garçom, o garçom traz a cerveja de qualquer jeito.
Aqui a cerveja nunca é “estupidamente” gelada.

Oliver:  Aqui no Brasil, todo mundo torce para um time, de perto ou de longe.
A maioria dos eslovenos que eu conheço também torcem para algum time de futebol.

Oliver:  Aqui no Brasil, sempre tem um padre falando na televisão ou na rádio.
Na Eslovênia é diferente, mas lembro que na época da eleição do novo papa, toda a vez que eu ligava a TV, não se falava de outra coisa.

Oliver:  Aqui no Brasil, a vida vai devagar. E normal estar preso no trânsito o dia todo. Mas não durma no semáforo não. Aí tem que ser rápido e sair até antes do semáforo passar no verde. Não depende se tiver muitas pessoas atrás, nem se estiverem atrasados. Também é normal ficar 10 minutos na fila do supermercado embora que tenha só uma pessoa na sua frente. Ai demora para passar os artigos, e muitas vezes a pessoa da caixa tem que digitar os códigos de barra na mão ou pedir ajuda para outro funcionário para achar o preço de um artigo. Mas, na hora de retirar o cartão de crédito, ai tem que ser rápido. Não é brincadeira, se não retirar o cartão na hora, a mesma moça da caixa que tomou 10 minutos para 10 artigos vai falar agressivamente para você agilizar: “pode retirar o cartão!”.
Os eslovenos parecem respeitar mais o espaço do outro. Já paciência é necessário na hora de estacionar o carro!  Já passei 20 minutos procurando uma vaga para estacionar em Liubliana. Os trens também são devagar, para fazer a distância de carro entre Koper e Liubliana eu levaria 1 hora, já de trem, a viagem leva 3 horas!

Oliver: Aqui no Brasil, a música faz parte da vida. Qualquer lugar tem musica ao vivo. Muitos brasileiros sabem tocar violão embora que não consideram que toquem se perguntar pra eles. Tem músicos talentosos, mas não tantos tocam as músicas deles. Bares estão cheios de bandas de cover.
Sinto tanta falta dos barzinho com música ao vivo.  Poucas foram as são as oportunidades que eu tive de ouvir música ao vivo em um restaurante ou barzinho. na Eslovênia. Aqui há muitos concertos, mas mesmo que estes sejam realizados em espaços mais descontraídos como pequenos restaurantes ou hotéis,  todos ficam sentados e em silêncio, esmo que o cantor tenha vindo da Bahia e esteja tocando axé. E não ouse falar baixinho enquanto a música toca, é falta de educação.

Oliver: Aqui no Brasil, a política não funciona só na dimensão esquerda – direita. Brasil é um país de esquerda em vários aspectos e de direita em outros. Por exemplo, se pode perder seu emprego de um dia pra outro quase sem aviso. Tem uma diferença enorme entre os pobres e os ricos. Ganhar vinte vezes o salário mínimo é bastante comum, e ganhar o salário mínimo ainda mais. As crianças de classe média ou alta estudam quase todos em escolas particulares, as igrejas tem um impacto muito importante sobre decisões políticas. E de outro lado, existe um sistema de saúde público, o estado tem muitas empresas, tem muitos funcionários públicos, tem bastante ajuda para erradicar a pobreza em regiões menos desenvolvidas do país. O mesmo governo é uma mistura de política conservadora, liberal e socialista.
A Eslovênia é um dos países menos desiguais da Europa. Aqui a grande maioria das crianças estudam nos escolas públicas, há poucos escolas particulares e geralmente estas alfabetizam a criança em outro idioma. A escolas públicas eslovenas estão entre as 25 melhores do mundo. Os cursos superiores também são gratuitos. Levando em consideração comparação feita pelo francês, a Eslovênia é um país muito mais social.

Oliver:Aqui no Brasil é comum conhecer alguém, bater um papo, falar “a gente se vê, vamos combinar, tá?”, e nem trocar telefone.
Os eslovenos parecem ser muito mais sinceros que nós brasileiros.

Oliver: Aqui no Brasil, a palavra “aparecer” em geral significa, “não aparecer”. Exemplo: “Vou aparecer mais tarde” significa na prática “não vou não”.
Isso também não acontece na Eslovênia. Os eslovenos são mais mais diretos em fazer uma recusa do que nós brasileiros.

Oliver: Aqui no Brasil, o clima é muito bom. Tem bastante sol, não esta frio, todas as condições estão reunidas para poder curtir atividades fora. Porém, os domingos, se quiser encontrar uma alma viva no meio da tarde, tem que ir pro shopping. As ruas estão as moscas, mas os shopping estão lotados. Shopping é a coisa mais sem graça do Brasil.
Dias de verão, ensolarados, os shopping na Eslovênia estão vazios. Os eslovenos estão na praia, no rio, nas montanhas. Compras só em caso de necessidade, no verão eles querem aproveitar os dias ensolarados ao ar livre.

Oliver: Aqui no Brasil, novela é mais importante do que cinema. Mas o cinema nacional é bom.
Também gosto do cinema esloveno. Nunca assisti novela eslovena, aqui são populares novelas venezuelanas, mexicanas e brasileiras.

Oliver: Aqui no Brasil, não falta espaço. Falam que o pais tem dimensões continentais. E é verdade, daria para caber a humanidade inteira no Brasil. Mas então se tiver tanto espaço, por que é que as garagens dos prédios são tão estreitas? Por que existe até o conceito de vaga presa?
Na Eslovênia faltam garagens. Em Koper tantos carros dormem nas ruas. Apenas os prédios com menos de 30 anos foram construídos com garagens no subsolo.

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