Um dia vou para a Eslovênia

Lá          
Por Fabrício Corsaletti

um dia vou para a Eslovênia
passar uns dias sem problemas
 
vivo uma fase desumana
acho que vou pra Liubliana
 
quero esquecer o meu trabalho –
me sinto um tipo de espantalho –

quero beber slivovica
comer prekmurska gibanica

caminharei ouvindo vozes
que não dirão coisas atrozes
 
lerei poesia numa praça
que ela diria que é uma graça
 
verei passar muitos casais
terei inveja dos meus pais
 
conhecerei uma menina
capricharei na pantomima
 
depois sozinho na taverna
anotarei “que lindas pernas”

visitarei alguns castelos
e torcerei meu tornozelo
 
irei parar num hospital
hei de sonhar com um milharal
 
e novamente andando ao léu
respirarei o azul do céu
 
serei tomado pela angústia
de estar no mundo sem astúcia
 
desejarei morrer agora
ou ser feliz por uma hora
 
me perderei num bairro antigo
onde haja fogos de artifício
 
chapado voltarei pro hotel
cheirando a óleo de pastel
 
então de bruços na calçada
vomitarei de madrugada

no dia seguinte – que perfeito –
ninguém que eu ame está por perto
 
um dia vou para a Eslovênia
atravessar pontes pequenas
 
a vida é soberana lá?
um dia vou pra Liubliana

Fonte: Revista Piauí