Foi matando a saudades de comer coxinha, que ontem comemorei 3 anos da minha vinda para a Eslovênia. Priscila, brasileira, esposa do Franklin, jogador de futebol do Olimpija, gentilmente convidou eu e meu marido para jantar. Faziam 3 anos que eu não comia coxinha e elas estavam deliciosas.
Ao fazer uma retrospectiva sobre os 3 anos que eu moro aqui, lembro que durante o primeiro ano eu era “apaixonada” pelo país. Amava a natureza, os rios limpos e azuis, gostava da segurança, do charme da capital Liubliana. Havia encontrado a paz de espírito. Incomodava-me não poder me comunicar com clareza, às vezes senti-me solitária, insegura, dependente do meu marido.
No segundo ano eu tinha um maior domínio no idioma, já conseguia me fazer ser entendida, senti-me mais independente e fiquei feliz por poder conhecer outros países. Procurei saber mais sobre o país, sua história, sua cultura… Então veio a crise financeira na Europa. O país passou e ainda passa por reformas econômicas, cortes de gastos sociais. E se antes a natureza me trazia a paz, eu diria que o cenário político-financeiro me trouxe apreensão.
No terceiro ano, criei mais relações sociais, conheci outros brasileiros que moravam aqui. Criei novos e bons amigos e fui invadida pela saudade. Senti saudades de viver entre as pessoas que fazem parte da minha história, saudades dos amigos que conheci na infância. Queria encontrar ao acaso, gente conhecida na rua, acompanhar o crescimento dos meus sobrinhos…
Senti uma espécie de “rompimento” entre a vida que eu tive no Brasil e a vida que eu tenho aqui. Rompimento não é a palavra certa. Tenho um sentimento de perda, uma nostalgia daquilo que deixei para trás. Uma certeza de que nenhuma viagem para o Brasil trará de volta o prazer de conviver com aqueles que me são queridos.
“Veš da te ljubim” (Sabe que te amo”), diz neste exato momento, meu marido que acabou de acordar ao meu lado na cama. E o ar torna-se delicadamente doce. Mitja sabe transformar minhas manhãs em música. E a saudade mistura-se com sentimentos de paz, segurança e recordo das delícias da vida a dois – Não, neste caso é necessário ser específica, reescrevo a frase – … das delícia que é viver ao lado do Mitja.
Algumas pessoas me perguntam se eu não tenho vontade de voltar morar no Brasil. Eu penso nas dificuldades do idioma, na saudade que sinto de todos, mas concluo: É preciso coragem para deixar um lugar onde sou tão feliz. Brincando de ser supersticiosa, eu diria “tenho medo de quebrar o encanto”.