Pequeno dicionário de novos termos pra quem vive no exterior

Na seção “Mulheres pelo Mundo” de hoje, a jornalista e escritora Martha M. Batalha faz uma análise bem-humorada de seu dia-a-dia, através de um dicionário de termos.  Escrevi em vermelho, comentários sobre as experiências que compartilho com ela.

 

Faz quatro anos que moro em Nova York. Durante este tempo eu não só tive que aprender coisas novas, mas reaprender outras tantas. Segue uma lista dos termos que tive que redefinir.

Passar roupa – pressionar a barra da saia engrugunhada no metrô sob os mantras “tá bom” e “ninguém vai notar”.

Jantar (nos primeiros meses) – Sucrilhos com vinho tinto. Quando tinha vinho.

Mãe – Fiscal que duas vezes por ano vem conferir se a cozinha está limpa e reclamar que os panos de prato estão encardidos. Ela insiste em dizer que eu tenho que escaldar os paninhos, enquanto eu procuro no dicionário o significado da palavra escaldar. No Brasil ela é cercada por empregados invisíveis, que preparam o café da manhã e fazem a cama sem serem notados. E que escaldam os paninhos de prato.

Sogra – Corpo estranho atrelado ao meu sofá algumas semanas por ano, de onde só sai para ir ao banheiro e cozinhar fritura.

Amigos – Grupo de pessoas que passaram por um experimento genético e agora só existe forma digital atrás da parede do Facebook.  Realmente é  muito mais fácil fazer amigos no Brasil. Na Eslovênia as pessoas são mais fechadas e não falam tanto de si.

Visita – Sinônimo de queijo francês. Pode feder depois de três dias, mas mesmo assim é desejada.

Manicure – Profissional que vive a oito mil quilômetros de distância. Por não existir em Nova York foi substituída por avatares que não sabem o que é cutícula. Na Eslovênia a manicure custa 40 euros e elas ainda reclamam quando você pede para tirar a cutícula.

Depilação– Ritual realizado no banheiro de casa em cima de uma toalha de banho, porque custa 80 dólares da porta pra fora. Aqui na Eslovênia não sai por menos do que 40 euros.

Brazilian wax (depilação brasileira)– Atividade não realizada por brasileiras, porque significa retirar todos os pentelhos do corpo humano, deixando as partes púbicas iguais as de uma crianca de cinco anos. Apropriada para simpatizantes de pedofilia.

New York Times – Versão moderna da Pedra Rosetta que demora um ano após a entrada no país para ser entendida.

Café com leite – Conceito impossível de explicar a um americano.

Babysitter – Profissionais acompanhadas de taxímetro. Mínimo 15 dolares a hora. Aqui na Eslovênia uma babysitter cobra 400 euros por mês.

Emprega doméstica – Entidade do folclore brasileiro. Os eslovenos de classe média  limpam a própria casa. Ninguém tem empregada doméstica.

Faxineira – Anjo da guarda que eu quero abraçar toda a vez que entra na minha casa, mas que infelizmente só vejo a cada 15 dias. Fundamental para a estabilidade do casamento. Custa 10 euros a hora da faxineira na Eslovênia.

Marca de biquini – Hein? É verdade, os europeus acham marquinha de biquíni brega.

Saudade –Que nem calcinha, nunca mais saí de casa sem ela. Verdade! :)

Choppe – Pausa no cotidiano que nunca mais chegou estupidamente gelada. Concordo com ela, aqui as cervejas nunca são geladas como no Brasil, eu já cheguei a pedir gelo para o garçom porque a cerveja estava “morna”.

Carnaval– Época do ano que passa sem ser notada. Na Eslovênia há carnavais, mas há desfiles com cavalos, sanfonas, músicas de fanfarras e poucas pessoas se arriscam a dançar.  Em algumas boates e bares tem festa à fantasia, mas os eslovenos dançam ao som de tecno! :)

Primavera –Época do ano em que volto a ver meu calcanhar.  :) Saudades de usar sandália!

Verão – Temporada de se ver pés medonhos no metrô.

Roupa suja – Alegoria do realismo fantástico que se multiplica no cesto durante a noite.

Roupa limpa, passada e dobrada – Componente do realismo fantástico brasileiro que se materializa em cima da cama em momentos de necessidade. Há indícios de que esteja relacionada a existência das empregadas domésticas.

Tanque – Peça peculiar do mobiliário brasileiro. Concordo, não há tanques na Eslovênia.

Banheiro– Cômodo da casa que aprendi a lavar depois de três décadas de vida e que não possui ralo. Alguns banheiros eslovenos não tem ralo, outros tem. Eu tive “sorte”. Meu marido construiu um banheiro com piso BRANCO!!! e sem ralo!!!!

Samba – Música que me faz chorar. Eu já chorava quando ouvia qualquer música latina, chorei ouvindo Buena Vista Social Club :)

Brasil – Eu volto. Eu vou sempre voltar.  Concordo com ela.

 

Fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/02/18/pequeno-dicionario-de-novos-termos-pra-quem-vive-no-exterior/