03/2010
É primavera na Europa, mas hoje fez -2° C em Liubliana, capital eslovena. A previsão do tempo para o resto da semana também não é animadora: vai nevar!
Após 8 meses na Eslovênia penso que a maior dificuldade na minha adaptação foi aprendender a conviver com o frio.
Cheguei na Eslovênia no verão, a temperatura média era de 33° C. No fim de setembro as noites já eram bastante frias.
Em outubro e novembro conheci o inverno europeu. Fiquei chateada, não só pelo frio, mas pela mudança radical que acontece no estilo de vida. As pessoas não saem mais de suas casas, não praticam mais esportes ao ar livre. Nos barzinhos não há mais mesas ao ar-livre iluminadas a luz de velas. As flores que antes decoram as casas morrem. As árvores perdem todas as folhas. O sol que antes dourava a minha pele, foi substituído por um céu constantemente nublado. A vida dorme!
Eu que no Brasil raramente usava calça, passei a usar duas calças e uma meia de lã grossa. É tão desconfortável andar com tanta roupa!
Cachicol, luvas, meias calças de lã, tocas, boinas, passaram a fazer parte do meu guarda-roupa. Todas as manhãs, sempre a mesma rotina: colocar a primeira meia, a segunda meia, e depois colocava a calça. Troquei vestidos leves e claros, por casacos escuros e pesados. Minhas sandálias por botas até o joelho e maiores que meu pé para poder usar com duas meias. Eu comprei palmilhas de alumínio e algodão para não passar frio nos pés.
Hoje fiquei durante 40 minutos no frio. Imagine estar em um congelador por 40 minutos!. Estava com botas, casaco grosso, *comprei o casado mais grosso que pude encontrar nas lojas eslovenas), blusa de lã, luvas de couro. Toda essa roupa não me impediu de sentir dor! Isso mesmo, o frio dói! Dói a costa porque ela se contrai, dói a mão, porque a luva de couro, mesmo com forro de veludo interno não é suficiente para aquecê-la.
É necessário usar manteiga de cacau nos lábios todo o tempo.
Às vezes o frio é tanto, que lágrimas começam a sair lágrimas dos meus olhos e o nariz começa a escorrer. Certas vezes eu não sentia mais o toque da minha mão em meu queixo ou em meu nariz. Parecia que eu tinha colocado gelo no queixo, mas eu só estava caminhando no ar livre durante 10 minutos!
A menor temperatura que eu senti foi -17° C. E eu estava a caminho da Áustria! Neste dia eu chorei, estava com gripe, garganta bastante inflamada, e cansada de todo esse frio. Lembro que disse ao meu marido chorando “Eu não posso mais viver neste país!”
Hoje eu dou risada de tudo, mas que foram dias difíceis, isso foram!
Depois do primeiro inverno, você entende porque os eslovenos adoram tomar chá e uma sopa quentinha!